O nosso intestino abriga milhares de espécies de microrganismos, que se tornaram essencial para nossa sobrevivência. Esse conjunto de seres é chamado de microbioma intestinal.
Algumas das descobertas mais importantes feitas a respeito desse universo foi por meio de um projeto chamado Projeto Microbioma, que ocorreu de 2007 a 2016, em duas fases, sendo cada uma delas de 5 anos. Foram com esses estudos que começamos a entender melhor a nossa microbioma intestinal que é composta por aproximadamente 40.000 cepas de bactérias, podendo ultrapassar em até 3 vezes o número de células no corpo humano.
O curioso, contudo, é que nossa microbiota é bem maior do que isso: o número se refere somente à bactérias, sendo que também possuímos vírus, fungos e protozoários.
Quando o assunto é microbioma, devemos focar além dos tipos de microrganismos que a compõem, analisando também os tipos de genes que os compõem. E na segunda etapa do Projeto Microbioma, foi exatamente isso o que foi estudado: a composição genética, proteínas e metabólitos dos microrganismos, que são seus produtos finais.
Ou seja, mais do que apenas estudar os microrganismos, foi estudada também a interação deles com nosso organismo.
Um terço da microbiota é comum entre as pessoas e dois terços são únicos de cada indivíduo, o que é válido para todos, até mesmo para gêmeos univitelinos. Isso se deve ao fato de que muitos fatores influenciam na formação dessa microbiota, como padrões dietéticos, fatores ambientais, estilo de vida, higiene, exposição à drogas e antibióticos, exercícios, localização geográfica, entre outros.
Confira alguma mais algumas das grandes e importantes descobertas que o Projeto Microbioma nos revelou:
Sim, os seres que vivem em seu intestino foram descobertos como indispensáveis para o nosso organismo. Algumas de suas funções, como a produção de substâncias essenciais para a saúde das células intestinais, a produção de vitaminas, a fermentação de substâncias não digeríveis, a regulação do metabolismo do colesterol e a regulação da nossa expressão genética são essenciais para nossa sobrevivência. Essas funções estão diretamente relacionadas à nossa saúde.
Mas é claro que em alguns casos, o desequilíbrio da quantidade e qualidade dessas bactérias intestinais pode acontecer. É o que chamamos de Disbiose Intestinal, condição que é associada a distúrbios metabólicos como a resistência à insulina, diabetes tipo 2 e obesidade.
Vamos entender como a Disbiose age em nosso organismo?
Ela provoca um afrouxamento das junções celulares que são responsáveis pela integridade da nossa barreira intestinal. Essa alteração provoca o que chamamos de Intestino Hiperpermeável (Leaky Gut), que permite a entrada de moléculas que antes eram barradas, como proteínas maiores e partículas de microorganismos.
Um exemplo são os famosos lipossacarídeos (componentes da parede celular das bactérias gram negativas). Antes barrados, agora com essa condição, eles estimulam o sistema de defesa e causam o aumento de nossas citocinas inflamatórias, o que desencadeia um estado inflamatório crônico de baixo grau, característico de patologias crônicas que compõem a Síndrome Metabólica.
E como em uma reação em cadeia, esse aumento da atividade inflamatória pode estimular os macrófagos, que são células do sistema imune, e gerar um desequilíbrio entre os macrófagos tipo 1 (inflamatórias) e os macrófagos tipo 2 (anti inflamatórios), os quais são responsáveis por aumentar processos inflamatórios já existentes no nosso corpo, como por exemplo, nas articulações degeneradas por artrose ou artrite.
Além do mais, esse estado de hiperexcitação do nosso sistema de defesa pode desencadear uma agressão a proteínas de nosso próprio corpo, o que caracteriza o início de um processo patológico de autoimunidade, como uma artrite reumatoide ou uma tireoidite de Hashimoto.
E a conversa fica ainda mais interessante: estudos em ratos mapearam os macrófagos tipo 1 ativados no intestino. Esse mapeamento mostrou que eles foram encontrados nas articulações com artropatia. Esse movimento comprova a migração dos macrófagos e, como consequência, a associação entre a disbiose intestinal, a hiperpermeabilidade, a ativação inflamatória e, por fim, doenças articulares.
Ficou claro o que o desequilíbrio do microbioma intestinal pode causar, certo?
Por isso, é certo concluir que para o enfrentamento de patologias crônicas, é fundamental entender ainda mais e melhor o microbioma.
A síndrome metabólica, a resistência à insulina, diabetes tipo 2, obesidade, patologias cardiovasculares, artropatias degenerativas e inflamatórias, doenças autoimunes, entendimento do microbioma intestinal e muitas outras questões serão muito melhor entendidas e resolvidas com o entendimento do microbioma intestinal e sua abordagem. É com isso que alcançaremos o melhor resultado dos tratamentos, buscando alcançar o melhor estilo e qualidade de vida para cada indivíduo.